O cenário econômico brasileiro em 2025 segue cada vez mais desafiador para as empresas, e os números não deixam dúvidas: o país vive um novo recorde de pedidos de recuperação judicial. A escalada, rápida e constante desde 2023, atingiu seu ápice agora, em um contexto de juros elevados, baixo consumo e crédito escasso, atingindo duramente os pequenos negócios.
Segundo números mais recentes da Serasa Experian, divulgados em 8 de julho, o Brasil registrou 990 pedidos de recuperação judicial apenas no primeiro semestre deste ano, alta de 52% sobre igual período do ano passado e maior patamar desde 2005, quando a legislação passou a permitir esse tipo de reestruturação formal. Para a Boa Vista Serviços, o acumulado dos últimos 12 meses encerrados em junho mostra crescimento de 61% nos pedidos, reforçando a gravidade da situação.
Especialmente para micro e pequenas empresas, que respondem por nada menos que 77% dos pedidos no período, a tempestade perfeita se formou. “Nunca vimos tamanha dificuldade para os pequenos negócios. O acesso ao crédito, já restrito, ficou praticamente inexistente com a manutenção da taxa Selic em 14,75% — a mais alta em quase uma década. A cada reunião do Banco Central, cresce a apreensão e diminui a capacidade de planejamento dessas empresas”, aponta Camila Batista, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC). Em relação ao início da década, é o dobro da taxa praticada em 2020, inviabilizando captações e encarecendo financiamentos já existentes.
Rodrigo Xavier, consultor em negócios do Sebrae-SP, endossa o diagnóstico. “O crédito não chega na ponta. Temos relatos de empreendedores que tentaram linhas emergenciais e não foram aprovados, mesmo com garantias reais. Para muitos, só restou negociar dívidas diretamente com fornecedores e esperar. Quando acaba a margem de negociação, infelizmente, o pedido de recuperação judicial vira a única saída para tentar preservar o mínimo do negócio e renegociar a dívida de uma forma organizada”, explica.
Esse quadro de sufocamento é agravado pela inflação persistente, ainda na casa dos 5,2% anualizados, e pela dificuldade no repasse de custos ao consumidor final. “O aumento do aluguel, de energia e de insumos pressiona as margens, mas o brasileiro está comprando menos. Isso impede qualquer recuperação no fluxo de caixa”, diz Marcos Ferreira, presidente da Associação Nacional dos Pequenos Negócios (Anpecom).
O número crescente de pequenas empresas em recuperação judicial se traduz também em aumento do desemprego: levantamento da CNC aponta que mais de 2,4 milhões de postos de trabalho — diretos e indiretos — estão ameaçados apenas em micro e pequenas empresas sob proteção judicial em 2025.
Ao contrário de períodos anteriores de crise, os grandes cases de recuperação judicial em 2025 não ficaram restritos a gigantes do varejo. Muitas padarias, bares, lojas de bairro e microempresas digitais passaram a recorrer a esse mecanismo, fenômeno ainda raro antes da pandemia e que agora se popularizou ao ponto de escritórios de advocacia terem filas de consultoria para elaboração dos planos de recuperação.
Entre os casos emblemáticos, a Tok&Stok voltou às páginas dos jornais após não conseguir aprovar um plano de reestruturação crível com credores, e redes médias do setor alimentício, como Ragazzo e Divino Fogão, também recorreram à Justiça para tentar evitar o fechamento total das lojas.
A situação generalizada afeta toda a cadeia produtiva. “Muitos fornecedores deixaram de receber e os bancos apertaram ainda mais o crédito, exigindo garantias que poucos conseguem dar. O resultado é um risco de efeito dominó, com grandes empresas também ficando fragilizadas por conta da inadimplência dos pequenos parceiros”, avalia a advogada Juliana Macedo, especialista em reestruturação empresarial.
A expectativa para o restante do ano, segundo economistas como Caio Medrado (Insper), é de que o movimento de recuperação judicial continue crescendo enquanto a taxa básica de juros não tiver perspectiva de alívio. “As medidas de estímulo até aqui não foram suficientes diante do tamanho do estrangulamento financeiro das empresas. Sem uma queda significativa da Selic e ampliação dos programas de crédito garantido, a tendência é de novas quebras e mais pedidos de recuperação sendo protocolados nos próximos meses”, pondera Medrado.
Os especialistas reforçam, porém, que a recuperação judicial não é uma sentença de morte para os negócios, especialmente para os pequenos. “É um recurso legítimo, que serve para proteger tanto o empresário quanto empregos, fornecedores e a própria arrecadação pública. O processo cria um ambiente de negociação controlada, o que pode permitir a volta por cima. Mas é fundamental que seja acompanhada de transparência, choque de gestão e inovação nos modelos de negócio”, conclui Juliana Macedo.
Num cenário de crise e incerteza, portais como o CadastroCNPJ se tornam aliados essenciais, permitindo monitoramento constante da situação dos parceiros de negócio, facilitando tomadas de decisão e prevenindo riscos de perdas em cascata para toda a cadeia produtiva.
O panorama de 2025 sinaliza, portanto, a necessidade urgente de políticas públicas mais agressivas, especialmente para os pequenos, além do protagonismo de instrumentos de informação, renegociação e gestão orientada à sustentabilidade dos negócios — para que o recorde de pedidos de recuperação judicial não seja um retrato permanente da economia nacional.